Foda-se

3 04 2010


Sinceramente eu nunca tive um problema muito sério para conseguir me enturmar, de um um jeito ou de outro eu acabava conseguindo me encaixar em algum canto nos lugares que faziam parte da minha rotina diária. Quando criança eu não pensava muito nisso, mas hoje em dia eu falo muito mais com as pessoas numa tentativa de ser mais simpático para não parecer tão debochado a ponto de me odiarem sem motivo no primeiro encontro. Ainda não funciona tão bem eu acho, mas pra falar a verdade eu não ligo muito para isso. Eu costumava pensar diferente, eu queria dar motivos para as pessoas me detestarem. Quando mais novo eu era uma criança muito tímida e fechada. Ainda me considero tímido, mas não mais de uma forma tão auto-destrutiva para com o resto do mundo. Eu tinha a mania ignorar as pessoas e não deixar ninguém entrar no meu “círculo de ar”. Ninguém podia me tocar e ninguém podia respirar o ar que eu respirava. Eu não deixava as pessoas me alcançarem ou me compreenderem.

Foi mais ou menos aos meus treze anos que meu jeito de pensar começou a amadurecer. Eu liguei o “foda-se”. Comecei a dizer o que pensava e a fazer comentários quando queria fazer, mas por mim e não pelas outras pessoas ou o que eu pensava que elas queriam ouvir. Eu devo ter tido três fases na minha vida toda, que eu dividiria em “meu próprio mundinho”, “odeie-me” e o de “hoje”, que pode dizer oi para você, mas também pode não ligar a mínima e te mandar tomar no cu caso me irrite. Acho que toda essa evolução da ‘fase 1’ pra ‘fase 2’ aconteceu por eu ter começado a me sentir muito sozinho e aquilo não estava fazendo bem pra mim. Quando você desce no muro e bate o pé sobre o que você pensa geralmente muita gente vai discordar de você, mas você também vai conseguir achar pessoas que pensem igual. Já eu sempre me senti diferente dos demais, o que é meio idiota em certo ponto. Afinal, ninguém é realmente igual a ninguém por mais que os gostos batam. Meus melhores amigos sempre tiveram os gostos mais nada a ver com os meus. É até saudável você conseguir andar com pessoas assim. Contrastes de opiniões, diferentes pontos de vistas, variadas conversas e assuntos. Conseguir entender o diferente também faz parte da cultura de cada um. Isso é, quando você tem a mente aberta.

No meu caso eu sempre fui visto como o “estranho” do grupo. O afeminado de estômago fraco que liga demais para assuntos acadêmicos. O “estranho” que não costuma ouvir tanta música ocidental como os outros. O “estranho” que curte música popular japonesa. O “estranho” que gasta horrores com revistas em quadrinhos e CD’s importados do Japão. Desde a infância eu ouvia sobre como eu devia me enquadrar ao padrão. Por muito tempo eu tentei e honestamente falando, era a coisa mais ridícula que eu tentei fazer da minha vida.

Uma vez numa situação escolar, como de costume, eu tive uma opinião diferente do resto da turma. Não me lembro exatamente sobre o quê no momento, mas quando perguntado sobre o por quê da divergência de opinião um colega respondeu por mim dizendo “É porque ele quer ser diferente”. Isso deixou uma profunda impressão em mim. Porque é engraçado, você cresce com as pessoas dizendo que você é diferente, que você devia gostar “disso” e não “aquilo”. Que você devia brincar com uma bola de futebol e não bonecas. E quando você menos espera vem alguém dizer que era VOCÊ quem tinha uma sede incontrolável de não ser igual aos outros.

Só que eu nunca quis ser diferente.
As pessoas que me taxavam de diferente.
Mas quer saber?
Foda-se.


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